"Ô lava a roupa lavadeira do Abaeté/ Na sombra da aroeira/ Até quando Deus quiser/ Na sombra da aroeira/ Deixa o tempo passar/ Na sombra do angelim/ Espera a roupa quarar"
Com a Alma Lavada, do grupo baiano Ganhadeiras de Itapuã.
No começo do Brasil urbano surgiu a figura dos escravizados de ganho, que prestavam serviços na cidade. Eles davam a maior parte do dinheiro que ganhavam para seus senhores, mas ficavam com uma parcela — um pouco do lucro ou o excedente das vendas.
Entre as ganhadeiras havia também "mulheres negras livres e libertas que lutavam para garantir o seu sustento e o de seus filhos". As atividades das libertas e escravizadas eram as mesmas: lavar roupas, trabalhar como amas-de leite, vender quitutes, peixes, tecidos, objetos. (Cecilia Soares)
A série "Ganhadeiras" começa com essa foto:

Lavadeiras no rio Tietê, no bairro do Canindé, em São Paulo. 1943.
Ganho essa foto no ano de 2011 de d. Favorita. Filha de italianos nascida brasileira, d. Favorita era uma mulher lavadeira que morou toda sua vida na rua Azurita. Primeiro, na Favela do Canindé. Depois, já com a rua asfaltada e a favela desfeita, passou a vida em uma casinha de esquina, vizinha da minha. Ela era melhor amiga de minha avó Maria.

Favorita, 2011.
Dona Maria e dona Favorita eram lavadeiras. Ambas lavavam roupa no rio Tietê e daí tiravam sustento para criar os filhos. Eram mulheres de ganho. Ganhavam o pão lavando e passando. Minha avó, mais tarde, se casaria e seria dona de um boteco na rua Araguaia, junto ao seu marido e seus filhos. Além de lavadeira, havia virado comerciante e cozinheira. Dona Favorita trabalhou como costureira por toda a vida. Criou sozinha o único filho.
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